Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
O Funerário Adivinhão
Maria

Residi parte de minha juventude em Independência, uma pequena cidade do noroeste do Rio Grande do Sul. É uma cidade diferente. Lá a população, ao invés de aumentar, diminui. No censo de 1970 o município tinha 9.970 habitantes, em 2001 tinha 7.287, em 2007 contava com apenas 6.679 e atualmente são 6.715 moradores. Como fica evidente, a população diminui gradativamente no andar da carruagem do tempo...

E vá explicar o porquê de a população diminuir dessa maneira... Uns diziam que o povo "morria mesmo antes da hora". De tanto que morriam. Quando dava caso de morte, logo se ouvia o grito:

- Mas, bah tchê! Que "cosa" terrível essa, de morrer antes da hora!

E de morte em morte, a população ia diminuindo...

Falar em diminuição da população... na época em que lá residi, a cidade tinha uma única funerária. E o dono (que já morreu) era o portador de uma particularidade prá lá de excepcional: sempre tinha um caixão na medida exata do vivente morto. Era incrível. O taura morria, a família procurava a funerária e lá vinha o homem com o caixão perfeito para o defunto.

Isso era uma comentação pela cidade que dava dó. Os "Schusta" de plantão inventavam mil e uma histórias sobre como o homem ficava sabendo o tamanho do morto antes mesmo do bendito morrer.

- Mas bah, tchê, me fale home, como é que pode o taura adivinhar o tamanho do defunto desse jeito? berrava o Seu Pitássio para o vizinho Seu Derço.

No bar da Dona Nika o assunto virou um bafafá sem fim:

- Eita, que o gaudério adivinhou mais uma Dona Nika. Onde é que já se viu uma "cosa" dessas, vizinha? O home sabe certinho o tamanho dos defunto!

- Pois é, Seu Zuza, vai lá se saber de onde o vivente fica sabendo essas coisas, dizia Dona Nika, meio desconfiada que o funerário tinha mesmo era um pacto com o demo.

No mais, ele era um índio normal. Ia na missa todos domingos, "schusteava" diariamente pela cidade prá saber as novidades e tinha o costume - por caridade - de visitar os doentes no hospital.

Só tem um hospital na cidade e nem sempre tinha internados. Mas, quando tinha, todo mundo ficava sabendo, pois a cidade é pequena e as notícias vazam que nem goteira no telhado. Uma atrás da outra. É uma coisa de loko!

Dizem que quando o agente funerário sabia que tinha um malexo internado, compadecido da alma em sofrimento, fazia uma visita.

A família, agradecida, pedia se podia contar com os serviços da funerária caso o moribundo resolvesse passar dessa para melhor. O homem, solidário, afirmava que podiam contar com ele para o que desse e viesse. E se espantava:

- Mas que barbaridade vizinha! Onde já se viu perguntar. Claro que pode contar. Nem que seja caso de morte! dizia solidário.

E a morte sempre vinha, a danada. E lá se ia a família para a funerária, que por incrível que pareça, apesar de só ter um ou dois caixões escorados pelas paredes, sempre tinha um sob medida para o falecido.

O que ninguém sabia é que quando o vivente visitava o hospital, percorria com os dedos o corpo do moribundo pregado na malfadada cama. Feita a medição, corria confeccionar o caixão.

Foi um deus-nos-acuda na cidade quando a notícia se espalhou.

E o número de mortes aumentou consideravelmente. É que quando um deles recebia a visita do agourento, e sentia os dedos do vivente percorrendo a pele, sabia que o estado era grave e "batia as bota devereda"... mesmo sendo "antes da hora"!

Número de vezes que este texto foi lido: 61713


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Resto de nada Maria
Frases Pensamentos do Dia Maria
Crônicas Gostaria de ouvir Maria
Crônicas Silenciar Maria
Crônicas As janelas do tempo Maria
Crônicas A volta das lágrimas da vida Maria
Crônicas Mulher e mãe Maria
Crônicas Paixão da vida pela vida! Maria
Crônicas Duas vidas numa só! Maria
Crônicas Anjos da Fonte Maria

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 1411 até 1420 de um total de 1437.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
RESENHAS 11 JORNAL - paulo ricardo azmbuja fogaça 61833 Visitas
Oração do amanhecer - Ivone Boechat 61833 Visitas
MUNDO COLORIDO - Simone Viçoza 61833 Visitas
METAMORFOSE DO AMOR - FADA VIRGINIA FADUL 61833 Visitas
PLATONICO - Ricardo Aparecido Lima 61833 Visitas
PAISAGENS DE OUTONO - Lailton Araújo 61833 Visitas
Desalentos e Desalentos - Reginaldo Correia da Silva 61833 Visitas
Anjo Vem - Maria 61833 Visitas
Aprendi no Amor - Leebe Still 61833 Visitas
Trem de Ouro - José Ernesto Kappel 61833 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última