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Ele se arruma.
Veste a camisa azul escura, a que mais gosta. Perfuma-se, penteia os cabelos, olha-se no espelho. Gosta da imagem refletida. Sabe que vai agradar.
Sai. Antes, uma olhada breve no relógio na cabeceira da cama. 14h35min.
O encontro no parque da cidade foi marcado para 15 horas. Tempo de sobra. Pode dirigir tranquilamente até o parque, procurar um lugar para estacionar. Tudo dará certo!
A ansiedade começa a tomar conta de seu corpo. As mãos frias e trêmulas denunciam isso. Também, pudera! Foram quatro meses de conversas pelo MSN antes de marcar o tão sonhado encontro!
Ela é incrível. Perfeita! Bom, ele imagina que seja... Nunca se viram. Nem uma foto sequer. Ela quis manter o suspense. Disse que não se importa com aparência e que gosta dele do jeito que ele é. Sensível, atencioso, inteligente.
Ele bem quis ver uma foto dela, mas ela foi irredutível: Sem fotos!
Ele aceitou. Depois de quatro meses marcaram o primeiro encontro.
Ela é apaixonante. Delicada como uma flor. Suave em suas letras. Parece que um suave perfume sai de suas palavras. Ele está encantado.
Enquanto dirige rumo ao parque, vai pensando em tudo que já conversaram. Em como tem coisas em comum. Gostos parecidos. Tudo parece conspirar para que dê certo.
Chega ao parque. Local combinado para o encontro. Estaciona. Entra admirando a paisagem. Senta-se a beira do lago. Tinha combinado com ela que ficaria sentado a beira do lago, perto da ponte. Ali se sentou! Fica olhando os casais namorando, imaginando que logo estará assim também. Admirando os pássaros, as flores, os peixes que comem o pão arremessado por algumas crianças que estão na ponte.
Olha no relógio. 14h55min. Ela deve estar chegando. Olha para o portão do parque, ansioso, quando vê uma pessoa conhecida entrando, usando um vestido florido, os longos cabelos soltos sobre os ombros.
Fica olhando, admirado. Que coincidência! Estarem no mesmo lugar, no mesmo horário. Ah... Mas tudo bem! Nada vai estragar seu bom humor.
Continua olhando os peixes e as crianças que sorriem enquanto atiram pão na água.
O vestido florido aproxima-se dele:
_ O que você está fazendo aqui? Ela diz.
_ Eu é que te pergunto isso! Responde nervoso.
_Ah...Vim dar um passeio apenas. Ela responde com um sorriso desconcertado.
Ele, já entre dentes, esbraveja:
_Ok. Eu tenho um encontro. Dê o seu passeio. Mas fique longe. Não me atrapalhe. Já é muita coincidência estarmos aqui.
O vestido florido afasta-se de sua visão. Cabelos esvoaçando ao vento. É uma moça linda, ele pensa. Pena ser tão chata!
Olha novamente o relógio. 15h10min. Ela está atrasada. Mas logo deve chegar.
Espera.
Espera.
Espera.
Relógio? 16h05min!
Algo deve ter acontecido. Ela não faria isso de propósito. Não depois de quatro meses de conversa tão intensa e prazerosa.
Vou esperar mais um pouco, pensa.
16h22min. É! Algo deve ter acontecido. Acho que ela não vem. Mas deve ter uma explicação. Conversaremos mais tarde e ela esclarecerá tudo.
Olha para o lado. O vestido florido se aproxima novamente. Os cabelos agora presos em um rabo de cavalo. Está um dia quente e agradável.
Ela se aproxima. E, sem rodeios, sorrindo, diz apenas:
_Vamos embora, mano. Quero carona. Afinal, ficamos os dois aqui plantados mesmo. Não vou voltar a pé para casa.
Ele se levanta. Não diz nada. Mas entende tudo. Noites e noites, cada um trancado em seu quarto. Conversas no computador.
Os irmãos se falam pouco. Mas sabem o que cada um faz em seu quarto.
_Que roubada! Ele pensa.
E os dois vão embora, rindo e gargalhando de seus erros e acertos.
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