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VELHO LOBO DO MAR
Philip Pear

A história que irei contar aconteceu há muito tempo atrás. Este conto perde-se nos registros dos grandes bardos. Contudo, apesar de tantos anos, ela ainda é uma historia atual; pois grandes exemplos não se perdem com os anos, são eternos.
Imaginem uma ilha cercada por tamanha beleza; imaginem grandes montanhas cobertas de relvas e lindos lagos de águas cristalinas, tão cristalinas que dá até para ver o próprio reflexo. Exatamente nesse cenário que nossa historia começa. Desde a antiguidade grandes navegadores partem para o desconhecido em busca de terras para conquistar, e com o Lobo Do Mar não foi diferente. Sim, nesta época, uma época de fantasia esquecida pelos homens, os animais falavam e pensavam como gente. O Lobo Do Mar aportou nesta ilha quando ainda era jovem, junto com seus amigos humanos e amigos bichos. Mas que graça teria se esse conto fosse contado por minha pessoa? Vamos deixar que o Lobo Do Mar nos conte. Vou logo avisando que já faz tempo e por isso ele está velho, mas continua valente como outrora foi.

*******

- Sentem-se, crianças. – Digo para meus netos, enquanto nos aquecemos à beira da fogueira nesta noite sem luar. – Vou contar para vocês uma historia.
- Vovô! O senhor vai contar de quando derrotou a grande Serpente Da Ilha? Assim que sua tripulação chegou aqui? – Perguntou um dos meus netinhos, o lobinho Azul. Batizamo-lo assim por causa da coloração de seu pelo, que puxava para o tom mais azul. Um lobo inteligente, e creio eu, que um dia será um grande alfa.

*******

Sem mais delongas, tudo começou quando meu grande amigo navegador e eu chegamos a esta ilha. Depois de longos dias navegando e com os alimentos já se acabando, precisávamos urgente de terra firme para se acomodar. Foi aí que avistamos este pedaço de terra. Quando aportamos neste litoral, ficamos encantados com a majestade da flora. Tudo era lindo, porém havia algo de estranho. Não víamos nenhum animal ou gente que pudéssemos falar. O lugar era silencioso demais. Eu não sou muito amigo dos pássaros, eles tagarelam muito, no entanto um lugar sem eles é sinal de um lugar astuto. Pássaros percebem o perigo muito antes de outros animais.
Ficamos a primeira semana sem dificuldades, nos alimentamos de frutas. Eu sou lobo, e todos sabem que lobos necessitam de carne, contudo foi difícil achar tal paladar. Então tive que me contentar com frutas silvestres. Tudo ocorria bem até o momento que a Serpente Da Ilha conscientizou-se da nossa chegada. Alguns homens conseguiram evadir-se para o navio e fugir. Poucos remanescentes continuaram na ilha, a maior parte dos que ficaram eram animais, principalmente lobos. Sem saber o que fazer, bolamos um plano para podermos derrotar a serpente; mas ainda não tínhamos visto o animal. Sabíamos que era uma serpente por causa dos altos sibilares que ela emitia. Sabíamos também que não era uma cobra comum, mas um animal extraordinariamente grande.
- Vamos atacar na parte da tarde, será mais fácil para nós. – Disse meu amigo navegante, um dos humanos mais leais que já conheci.
- Vai ser um embate árduo, se alguém quiser desistir, use a canoa que fizemos. Porque se for preciso morreremos lutando. – Tentei parecer confiante aos meus companheiros.
Como eu disse: o navegante era leal, porém os outros humanos covardes fugiram dali e os outros animais também; tristemente até os lobos fugiram, exceto uma. A loba que decidiu permanecer conosco ficou na praia, pois não queria que ela entrasse em combate. Quando chegou a hora do confronto, um temor dominou-me. A serpente tinha mais de cinquenta metros de comprimento. Era uma das maiores cobras que já vi em toda a minha existência. Enfrentamos o animal mesmo assim.
- Vocês atrevem-se a invadir o local sagrado da grande serpente? – Disse a cobra. – Tolos, se acham que sairão com vida, estão enganados. Esta ilha pertence a mim, e eu expulsei a todos os outros que vieram antes de vocês.
A cobra nos atacou primeiro. Investiu um golpe potente com sua calda. Eu fui para a direita e o navegante para a esquerda. Investi nela com minhas garras e dentes; meu parceiro desembainhou a espada e atacou o bicho. A serpente era ágil demais e não se cansava. Meu amigo e eu estávamos ficando sem forças para continuar a lutar.
- Precisamos de uma estratégia se quisermos a vitória. – Disse o espadachim enquanto tentava proteger-se de um ataque da cobra.
- Tente distraí-la que eu ataco a cabeça e tento decapitá-la com meus dentes. – Falei para ele.
- Não adianta se esconderem de mim, posso senti-los. – Disse a serpente, presunçosamente.
Fizemos como o planejado. Porém, mais tarde, se eu soubesse o que teria acontecido, nunca teria dito para que fizéssemos tal coisa. Pois o resultado foi glorioso, mas uma gloria conquistada pela dor.
Enquanto o espadachim atacava a parte traseira da serpente, ela tentou abocanha-lo com tamanha fúria, foi aí que aconteceu a coisa mais terrível que poderia acontecer; os dentes da cobra cravaram-se na barriga do meu companheiro. A serpente enrolou-se nele tentando quebra-lhe os ossos. A cólera tomou-me por completo; em um ato de bravura cravei minhas garras afiadas e meus dentes no pescoço da serpente. Fora difícil, mas consegui separar a cabeça do animal do restante do corpo. Corri para meu amigo humano na esperança de conseguir ajuda-lo.
- Vencemos! – Foi tudo que conseguiu dizer, antes que a morte o tomasse.

*******

A fogueira estala quando uma chama lambe uma lasca da madeira.
- Naqueles tempos eu fiquei conhecido como o Grande Lobo Do Mar, pela minha bravura em derrotar a serpente. Ajudei a repovoar a ilha e dar vida para este lugar que vocês vivem hoje. – Digo para meus netos lobos. – Hoje me chamam de Velho Lobo Do Mar, pois estou velho e cansado, mas um dia cada um de vocês vão assumir suas próprias matilhas e fazerem as suas próprias historias. Nunca mais naveguei, porque não achei que seria o correto viajar sem meu fiel amigo, no entanto estou me preparando para a grande viagem.
- Que viagem é essa, vovô? – Perguntou a lobinha, a única fêmea dos meus netos.
- A viagem que todos nós faremos um dia. A viagem que meu amigo navegante fez. Dela ninguém escapa, dela ninguém volta.
Os lobinhos cansados recolheram-se para dormir, eu contemplo o céu. Uivo para a noite e fico pensando no quanto a vida é passageira.



Biografia:
Sou escritor em início de carreira, possuo dois livros publicados: O ladrão de Almas, e um livro de contos Memórias. Meu gênero é fantasia, pois acredito que devemos alimentar a criança que habita em nós; e a imaginação é o primeiro passo para retomar a infância perdida.
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Publicações de número 1 até 3 de um total de 3.


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