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O verme da razão
Gladyston costa

O verme como sombras rasteja pela cidade. Cruza o asfalto quente ao sol do meio dia, o corpo queima sem alma. Caminha entre as linhas paralelas que revelam a ciência da vida em seu mundo. As calçadas que emolduram a avenida são jardins onde brotam paredes, onde o asfalto preto de petróleo esquenta sob o sol. O calor da luz sequestrada queima o verme rastejante. O bicho não desiste, sofre, arde, e sórdido continua. Por entre as linhas verticais e insólitas dos edifícios, a lógica de sua existência, caminha contra a luz. Caminha reto com pensamento linear e fragmentado, como uma sombra sem corpo no mundo. Mas teme e reza, pede salvação para além do alto das paredes, porém seu deus já não o alcança. Absorvido pela grandeza da razão, agora a fé é uma moeda, o verme está cego. O deus das linhas retas medidas e calculadas são fragmentos descartados do mundo. O deus do sol e das coisas do mundo não permeia as linhas retas da razão. Pobre verme sem alma! A fé que emana do seu medo é cega e perdida. As réguas, compassos e a métrica que criam paredes roubam a luz, o céu, cobrem a terra com asfalto. Pelo caminho o rastejante verme disseca o mundo, guarda os pedaços da vida em caixas enquanto fragmentos do universo despencam pelo chão. Sua sombra queima no asfalto, está só e perdido no espaço, pois a razão que o impulsiona o isola. Fruto da lógica, para o verme da ciência, o criador do sol não é cognoscível. Com sua sombra pelo asfalto, perdido no caminho, mais uma vez, busca na razão a salvação. Como uma flecha certeira o sol o alcança e rasga ao meio seu paradoxo, sua existência. O verme segue... queima sem alma.

Gladyston Costa


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